Um fato indiscutível é que um corredor que se propõe a começar a colocar metas em seus treinos com provas de dez quilômetros, meia maratona, maratonas, ultramaratonas e os mais diversos tipos de corridas que existem hoje, corre mais risco de adquirir uma lesão do que o corredor de academia, que está preocupado apenas em manter um nível saudável de atividade física.
Isso nos leva ao fato de que praticamente todos os corredores de rua já tiveram, têm ou terão diversas lesões como tendinopatias (tendinites), fraturas por estresse, lesões musculares, desgastes articulares e muitas outras. Mas não é este o fato que faria com que os corredores parassem de correr, pois é melhor ter lesões ortopédicas do que doenças cardiovasculares ou outras doenças ligadas ao sedentarismo.
O problema é que quando ocorre alguma lesão o corpo não reage apenas naquele local. Durante a fase de cicatrização, o corredor muda sua rotina (muitas vezes se movimenta menos), e por esse motivo, além de ocorrer o processo de cicatrização no local, podem ocorrer aderências teciduais na região em volta da lesão ou até em locais distantes. Isso faz com que quando o atleta volte a se movimentar comece a sentir dores ou rigidez em lugares diferentes, sensações difusas de incomodo que muitas vezes podem ser confundidas com uma lesão persistente, e este processo na verdade é natural.
Essas aderências, também chamadas de fibroses, nada mais são do que um processo causado por fatores como a diminuição de movimento entre os tecidos pela inatividade da fase de cicatrização, microlesões causadas pelo retorno aos treinos (dor muscular tardia) e movimentos repetitivos do dia a dia. Esses esforços podem levar ao acúmulo de tensão muscular fazendo com que o ambiente fique mais ácido e estimule ainda mais o depósito de fibras entre os músculos e fáscias, dando esta sensação de rigidez e às vezes até mesmo dor.
Para evitar este tipo de ocorrência, na medida em que o processo de tratamento pós-lesão permita, o alongamento diário é muito bem vindo. A terapia manual para liberação miofascial (músculos e fáscias) também pode ajudar muito se feita por um profissional habilitado, pois muitos pacientes chegam ao consultório reclamando que foram fazer uma massagem e ficaram com mais dor, provavelmente porque a massagem foi feita sobre uma lesão ou estimulando um processo chamado de inibição recíproca, no qual se estimula o relaxamento demasiado de um grupo muscular contrário (antagonista) ao grupo muscular contraturado e isto provoca um aumento da contratura.
A diferença entre Terapia Manual e massagem é que a Terapia Manual é feita com o objetivo de melhora da biomecânica e liberação miofascial, às vezes até mesmo de forma reflexa, trabalhando a musculatura oposta. Já na massagem comum é feita uma sequência de manobras que não levam em consideração a biomecânica e nem a lesão especificamente, por isso muitas vezes o resultado é positivo, mas pode ocorrer piora da dor.
Portanto, quando estiver voltando aos treinos e sentirem que existe alguma rigidez ou dor nova não se desespere, consulte o profissional que te orientou durante todo processo de reabilitação, pois pode ser só uma aderência!
Bons treinos!
Por: Henrique Guedes, Bacharelado em Educação física, Especialista Treinamento Desportivo, Cref: 002962-G/PB;
Preparador Físico, Técnico de Corrida de Rua, Personal Training e Professor de Natação.
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